Filho do primeiro matrimônio de Maria Flora Amorim, nasceu Deolindo Amorim em 23 de janeiro de 1906, em Baixa Grande, no sertão baiano, quando o pai – também Deolindo – já havia partido para o mundo espiritual.
A vocação literária manifestou-se cedo. Seus primeiros escritos sobre temas religiosos apareceram, aos 17 anos, em NORDESTE EVANGÉLICO, uma publicação protestante de Camavieiras, BA. Embora com simpatias pela seita, Deolindo não chegou a aderir formalmente a ela. E que, observando a amplitude de seus interesses pela leitura, especialmente de História e pela obra de Ruy Barbosa, um pastor amigo observou, certa vez: “irmão, quem vai seguir ao Cristo não se dedica às coisas do mundo.” Não era aquele, portanto, o seu caminho. Como ignorar o mundo se o Cristo nos quer precisamente no mundo, trabalhando por ele? A bem intencionada, mas infeliz observação do pastor, levou-o, contudo, a um período de agnosticismo que duraria alguns anos.
Na idade militar, decidiu servir ao Exército do Rio, onde continuaria sendo o brilhante autodidata de sempre. Viveria na então Capital Federal, um tempo de solidão e dificuldades materiais, mas acabou conseguindo espaço no veterano JORNAL DO COMÉRCIO, como colaborador. Passaria depois, já como jornalista profissional sindicalizado, para o RADICAL. Seria fiel ao jornalismo até o fim da existência.
Foi um companheiro de quarto que o levou certa vez a uma palestra espírita no CE. “Jorge Niemeyer” e lhe emprestou alguns livros doutrinários. Destes, o que mais impressionou Deolindo, à época, foi O PORQUÊ DA VIDA, de Léon Denis, que se tornaria seu autor predileto. Escolheria Denis como patrono, ao tomar posse na Academia Brasileira de Filosofia e sobre ele escreveria um dos seus excelentes estudos.
Por influência do Com. João Torres e de Francisco Klors Werneck, passou a frequentar a antiga Liga Espírita e a colaborar na REVISTA.
Dera-lhe o Espiritismo o rumo que faltava à sua vida e a sólida convicção que ele fundamentaria com extensas leituras e profundas meditações. Também no meio espirita – precisamente na Liga – encontraria a companheira ideal, à qual se uniria pelo casamento, em 1941. A jovem Delta era vizinha de A urino Souto, que a convidou para prestar serviços de secretária à Liga, da qual era o Presidente.
Levado por Henrique Andrade, Deolindo daria início ao longo período de colaboração em MUNDO ESPÍRITA, de Curitiba, no qual escreveu até o último alento a sua valiosa coluna.
Deolindo foi o pioneiro no Brasil nos métodos didáticos de difundir a Doutrina, desde a fundação de um grupo de estudos que denominou “18 de Abril” Lançaria mais tarde, com outros idealistas, a Faculdade de Estudos Psíquicos, posteriormente convertida, por força de exigências legais, no Instituto de Cultura Espírita, que serviria de modelo a outras instituições do mesmo tipo. Ao seu querido Instituto dedicaria os melhores anos de sua vida e competência. Implantou ali os ‘cursos regulares de Espiritismo’, como preconizava Kardec, ao qual Deolindo manteve inabalável fidelidade em tudo quanto fez, escreveu, falou e ensinou no contexto do movimento espírita e fora dele. Importante
contribuição sua foi o lançamento dos ANAIS, que reuniam o material debatido nas mesas redondas durante o ano letivo.
Além da importante obra que deixou em livros, disseminava generosamente por toda a imprensa espirita nacional e estrangeira numerosos e apreciados artigos. E sem dúvida, o autor espírita mais difundido no exterior.
Menos conhecida no meio espírita é a sua atividade intelectual não especificamente doutrinária, no trato de temas históricos, filosóficos, sociais, econômicos e antropológicos.
Há citações suas em obras de Pedro Calmon e Delgado de Carvalho, bem como em teses e estudos publicados no exterior. Poucos e íntimos amigos sabiam, por exemplo,
da consagradora opinião do eminente Prof Roberto Lyra, entusiasmado com a sua memorável conferência na antiga Faculdade de Direito do Catete, sobre Espiritismo e Criminologia.
Trabalhava Deolindo no livro O ESPIRITISMO E OS PROBLEMAS HUMANOS, quando partiu, aos 76 anos de idade, em 24 de abril de 1984. Deixava inacabado o Capítulo IX, onde assumi a tarefa de concluir a obra do confrade e amigo de muitos anos.
Hermínio C. Miranda – Do Livro “O Espiritismo e os Problemas Humanos”