Jerônimo Mendonça Ribeiro nasceu em Ituiutaba, MG, no dia primeiro de novembro de 1939. A sua infância foi a de uma criança normal. Frequentou a escola até o início do antigo ginasial.
Seus pais eram muito pobres, analfabetos, lutavam arduamente pela sobrevivência: a mãe lavando roupas para fora e o pai fazendo “bicos” pelas fazendas.
Já na puberdade, Jerônimo começou a sentir dores nas articulações, especialmente nos joelhos e tornozelos. Esses pontos de seu corpo passaram a “inchar” e já aos dezoito anos andava com dificuldade.
Teve vários empregos, porém as dores agravaram, não lhe deram tréguas e o impedimento de permanecer por muito tempo num mesmo trabalho. Era sempre obrigado a se afastar. Foi ele balconista, entregador de jornal, redator-chefe de uma revista e professor.
Seu passatempo preferido era o cinema, era fascinado pelo Tarzan, sendo este o seu apelido.
Quando adolescente frequentou uma Igreja presbiteriana. Era um membro ativo, dava palestras.
Após o desencarne de sua avó, começou a se debater mentalmente no problema cruciante da morte e do destino da alma. A amizade com um espírita fê-lo converter-se à nossa doutrina. O amigo esclareceu-lhe as dúvidas da vida além-túmulo e conseguiu acalmá-lo.
Enquanto sua saúde lhe permitiu, participou ativamente das excursões com os jovens de uma Mocidade Espiritista.
Certo dia foi ao cinema assistir “… E o Vento Levou”, mas não havia nenhuma poltrona vazia. Jerônimo ficou o tempo todo de pé no fundo da sala e ao terminar o filme estava petrificado, com grande vibração de dor nos membros inferiores. Foi aí que começou a jornada dolorosa e difícil da paralisia, como ele mesmo conta em sua autobiografia. Passou três meses deitado, plenamente impossibilitado de se locomover. Depois usou muletas por algum tempo enquanto ia lecionar.
Porém, acabou mesmo tendo que ficar numa cama ortopédica, acometido de artrite reumatóide progressiva. Permaneceu assim cerca de 32 anos preso ao leito, paralítico e com a agravante perda da visão. Quase não dormia, aproveitou para estudar bastante o Espiritismo. Quando ficou cego, amigos liam para ele. Nunca faltaram-lhe bons amigos.
Jerônimo tornou-se um orador espírita. Podemos dizer que ele conseguiu transformar seu leito numa tribuna ambulante (deu palestras pelo Brasil todo) e por meio dela conseguiu realizar um grande e valioso trabalho.
Fundou em Ituiutaba a creche “Pouso do Amanhecer” e ainda Centros, Lares e Comunidades Espíritas e também uma gráfica, estas em outras localidades.
Escreveu seis livros, entre romances e livros de poesias: “Crepúsculo de Um Coração”, “Cadeira de Rodas”, “Nas Pegadas de Um Anjo”, “Escalada de Luz”, “De Mãos Dadas Com Jesus” e “Quatorze Anos Depois” (em co-autoria). Deixou um esboço autobiográfico, infelizmente inacabado.
Jerônimo foi, realmente, um gigante. E pensar que ficou totalmente paralítico, sem poder mover nem mesmo o pescoço, cego durante vinte anos, com dores no corpo, dores terríveis no peito, necessitando de quilos de peso de areia para suportar a dor, tomando um determinado remédio várias vezes por dia e, ainda assim, leitores amigos, sempre sereno e resignado!
Quem o conheceu afirma que ele estava sempre rindo, gostava de um bom papo e de cantar também.
Certa vez, o Dr. Fritz disse-lhe que ele tinha a doença de três cês:- cama, carma e calma.
Os amigos sempre levaram Jerônimo ao cinema e também a outros lugares para se distrair. Estando, certa ocasião, justamente num cinema, uma moça tropeçou em sua cama e “explodiu”: “Mas não é possível! Aonde eu vou, está o aleijado! Vou ao campo de futebol, o aleijado lá! Vou a uma festa, o aleijado lá! Esse aleijado me persegue! Aonde eu vou ele está!”. Jerônimo pensou consigo: “E agora? A moça está revoltada, nervosa mesmo. Tenho que lhe dar uma resposta, mas não quero irritá-la mais ainda. O que dizer?”. E saiu com essa: “Mas também, minha filha, você não para em casa, heim?!”.
Ela olhou-o atônita e começou a rir. Riram juntos. Ficaram amigos.
Assim era o Jerônimo, sempre alegre, espirituoso, seu lema era: “Não perder a calma jamais”.
Duas pessoas que ficaram grandes amigas suas foram o Chico Xavier e o cantor Roberto Carlos.
O “Gigante deitado” deu muitas entrevistas, inclusive na TV, também recebia muitas visitas, até de estrangeiros. Muita gente lhe pedia conselhos.
Certa vez, um repórter lhe perguntou o que é a felicidade. Ele respondeu assim: “A felicidade, para mim, deitado há tanto tempo nesta cama sem poder me mexer, seria poder virar de lado”.
Em outra ocasião, ele disse: “Casei-me com a Doutrina Espírita no civil e com a dor no religioso”.
Jerônimo Mendonça desencarnou no dia 26 de novembro de 1989, depois de ter completado meio século de vida. Quase toda ela num leito de dor e, vamos dizer assim, dor e também trabalho. Dizem os “experts” que não havia explicação científica plausível para o fato de estar ainda encarnado. Com o agravamento da doença, seu corpo não oferecia mais as mínimas condições de vida. Seu pulso, seus batimentos cardíacos, por exemplo, em momentos de crise, não eram mais registrados pelos instrumentos da medicina, tal a sua fragilidade.
E pensar que ele nunca parou de viajar, trabalhar, agir.
Nesta parte final do artigo, quero colocar algumas palavras de Jerônimo: “Ante a sublime verdade do Espiritismo cristão, vejo e sinto que realmente a nossa vida na Terra não passa de curto aprendizado ante o infinito da vida neste Universo imenso!”.
“Nesta batalha (contra a doença) é preciso lutar e vencer, jamais ser vencido. Enquanto me ferem os grilhões, liberto-me do homem velho que fui, antevendo horizontes inatingidos… Onde a mestra dor dar-me-á a alforria merecida”.
“A enfermidade tem o seu curso educativo. Mas é mister saber sofrer, extraindo da dor o remédio positivo para combater com as enfermidades de ordem perispiritual. Abandonemos toda vaidade, antes que a vaidade nos abandone”.
Quem conheceu Jerônimo (há depoimentos no livro “O Gigante Deitado”) afirma que o propósito de sua vida era ouvir, ajudar e falar do Evangelho, aliviando as dores alheias. Vejam só!!!
O livro “Jerônimo Mendonça: Sua Vida e Sua Obra” mostra-nos quem ele foi em algumas encarnações passadas. Em uma delas foi o príncipe egípcio Horemseb, homem misterioso, cruel, envolto em bruxaria, que matou muita gente. Fascinava as mulheres que se apaixonavam loucamente por ele, utilizando uma rosa enfeitiçada. Posteriormente, reencarnado como o também egípcio Cambises, praticou crimes hediondos contra seus inimigos, servos e a própria família. Como o Rei Luis da Baviera não progrediu, mergulhou na ociosidade, podemos dizer que sucumbiu em orgias e devassidão. Vejam o filme do Luciano Visconti – “Ludwig”. Luis acabou ficando louco. Esse passado triste de Jerônimo nós podemos encontrar também na obra “Romances de Uma rainha” (02 Volumes) do Conde J.W. Rochester.
Para finalizar esta matéria, diria que a resignação ante a dor é uma virtude que poucos já conquistaram. Jerônimo, cuja companhia de quase todos os dias de sua vida foi a dor, foi também um grande modelo de resignação. Aprendeu a sofrer com paciência.
Aprendamos com ele. Ele é um modelo a ser seguido, foi um espírito de extraordinária coragem para aceitar uma prova tão rude.
E venceu, como ele mesmo disse em uma mensagem mediúnica enviada algum tempo após o seu desencarne: “sou um pássaro livre”.