A partir de 1847, o lar da família Fox, em Hydesville no Estado de New York, foi perturbado por ruídos inexplicáveis, que tiravam o seu sono.
Em 31 de Março de 1848, a caçula da família, Kate Fox, teve a idéia de abrir um diálogo com o que se podia chamar a “causa” dos barulhos, estabelecendo convenções rudimentares (o número de batidas identificava a letra do alfabeto). A “causa” então respondeu, apresentando-se como o espírito de uma pessoa falecida, dando seu nome e sua história. Esses elementos, ignorados pelos assistentes, puderam ser verificados, pelo menos parcialmente. Kate Fox havia então descoberto o que parecia ser um meio de comunicação entre os dois mundos.
A série desses eventos, o exame rigoroso que foi feito (pelo menos três comissões foram nomeadas), assim como as acusações e as perseguições nascidas dos fanatismos religiosos, tiveram uma grande repercussão na Europa.
O fenômeno das mesas girantes decorreu por volta de 1850, expandindo-se largamente pelo mundo, e confirmava a hipótese da manifestação de forças inteligentes intervindo sobre o plano físico. É a própria mesa que indica um método permitindo obter a escrita, meio de comunicação mais prático e rápido. Mais tarde, se constatou que a escrita podia ser obtida diretamente por intermédio da mão dos médiuns, e as comunicações se realizar diretamente pela voz dos médiuns. Muitos outros fenômenos foram produzidos, como a escrita direta sobre ardósias ou sobre papel encerrado em caixas seladas, clarões luminosos, etc, e isso ao mesmo tempo e por toda parte no mundo.
Esses fenômenos se transformaram em moda e passa-tempo. Em conseqüência, foram freqüentemente acolhidos com grande incredulidade, mas atraíram também a atenção dos homens de ciência, que se puseram a observar e estudar seriamente a fenomenologia mediúnica, descartando rapidamente a hipótese de fraudes.
Entre eles figura Hippolyte Rivail, que mais tarde adotaria o pseudônimo de Allan Kardec. Nascido em Lyon em 1804, ele estudou em Yverdun, na Suíça, no Instituto de Henri Pestalozzi. Rivail começou sua carreira como professor de letras e de ciências. Excelente pedagogo, publicou diversos livros didáticos e contribuiu para a reforma do ensino francês.
Foi em 1854 que ele ouviu falar das mesas girantes e das manifestações inteligentes. Cético de início adotou, entretanto, uma atitude correta ao aceitar assistir às experiências, empreendendo depois seus sérios estudos do Espiritismo. Sem nunca elaborar uma teoria preconcebida ou prematura, aplicou o método experimental pela observação rigorosa e meticulosa dos fenômenos.
Analisando não somente o aspecto externo dos fenômenos, mas também o teor muito coerente das melhores comunicações recebidas, ele aplicou o princípio da causalidade: os efeitos inteligentes devem ter uma causa inteligente. Esta causa inteligente definiu a si mesma como sendo um espírito, ou princípio inteligente dos seres humanos, sobrevivendo à morte que não é senão a destruição do corpo físico. Mas “o Espiritismo não concluiu pela existência dos Espíritos senão quando essa existência se ressaltou como uma evidência da observação dos fatos e, também, de outros princípios”. 2
Allan Kardec rapidamente descartou a infalibilidade dos espíritos, que não sabem mais do que quando estavam encarnados entre os humanos. Não é por estarem mortos que devem tudo saber. Todavia, constatou que alguns dentre eles possuíam um nível intelectual e moral bem acima da média terrestre, que “se exprimiam sem alegorias, e davam às coisas um sentido claro e preciso que não pudesse estar sujeito à uma falsa interpretação.“3 Além disso, seus ensinamentos lógicos clareavam, confirmavam e sancionavam por provas o texto das escrituras sagradas e noções filosóficas por vezes muito antigas. Os fenômenos sendo naturais e universais, remontam à noite dos tempos.
Por um trabalho de observação e análise metódica, multiplicando as fontes (50.000 mensagens) e os médiuns, comparando as mensagens e passando-as sob o crivo da razão e do bom senso, Allan Kardec organizou e triou os ensinamentos dos espíritos, e os publicou em 18 de Abril de 1857 no “O Livro dos Espíritos”. Esse livro contém “os princípios da doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade, segundo o ensinamento dado pelos espíritos superiores.”
Este último ponto é importante, porque precisa que a Doutrina Espírita não é uma concepção pessoal de Allan Kardec. Ele não é nem “fundador’ nem “papa” do Espiritismo, mas “Codificador da Doutrina Espírita”. Seguindo o mesmo princípio, entre 1857 e 1869, ano de sua desencarnação, Allan Kardec completou “O Livro dos Espíritos” por outras obras, que são:
- “O Livro dos Médiuns”, precisando a teoria dos fenômenos e das manifestações;
- “O Evangelho segundo o Espiritismo”, dando a explicação das máximas morais do Cristo de acordo com o Espiritismo, explorando suas repercussões filosóficas e éticas;
- “O Céu e o Inferno” ou a justiça divina segundo o Espiritismo, que explora igualmente as repercussões filosóficas do Espiritismo no domínio da ética, e completa a base experimental;
- “A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo”, aprofundando vários pontos da teoria.
Fonte: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/unidual/o-espiritismo-eh-uma-ciencia.html